terça-feira, 26 de março de 2013

Moradores evitam transporte público após ataques a ônibus em Ribeirão

Pontos na Zona Norte tinham poucos passageiros nesta terça-feira (26).
Testemunhas e vizinhos adotam 'lei do silêncio' sobre coletivos queimados.

Eduardo Guidini
Fonte:EPTV
Larissa espera o ônibus com a amiga na Avenida Dom Pedro I, no bairro Ipiranga (Foto: Eduardo Guidini/ G1)
Larissa espera o ônibus com a amiga na Avenida Dom Pedro I,
no mesmo bairro onde aconteceram ataques a coletivos na segunda-feira
(Foto: Eduardo Guidini/ EPTV)
Moradores de Ribeirão Preto (SP) que utilizam diariamente o transporte público relatam medo de novos ataques, um dia após dois ônibus coletivos e um micro-ônibus terem sido incendiados no bairro Ipiranga. Os passageiros temem que as ações criminosas voltem a acontecer nesta terça-feira (26) e já procuram alternativas para não dependerem dos ônibus urbanos. Durante a manhã e o início da tarde, a maioria dos pontos na Zona Norte estavam vazios.
Vendedor espera em ponto de ônibus de Ribeirão Preto (Foto: Eduardo Guidini/ G1)
Vendedor aguarda ônibus em Ribeirão: 'Não tem
como não ter com medo' (Foto: Eduardo Guidini/ EPTV)
A estudante Larissa Guimarães, de 16 anos, diz estar apavorada com a possibilidade de outros ônibus serem queimados no bairro. "A gente nunca sabe quando pode acontecer. Pode ser o ônibus em que a gente está", comenta a adolescente, que estava em um curso na noite de segunda-feira (25), quando os três ataques ocorreram. "Não consegui voltar para casa e meu pai foi me buscar na escola. Hoje, combinamos a mesma coisa."
O vendedor Luiz Carlos de Oliveira, de 22 anos, não teve a mesma sorte: emprestou o carro para o pai e precisará utilizar o transporte coletivo para voltar do trabalho nesta terça-feira. Oliveira não descarta, porém, a hipótese de retornar para casa a pé. "Não tem como não ficar com medo. Hoje de manhã, o motorista estava apavorado. Qualquer novo ataque, eles dizem que vão parar. O jeito é ir caminhando", afirma.

Na noite de terça-feira, o consórcio Pró-Urbano, responsável pelo transporte público em Ribeirão, suspendeu a circulação de todas as linhas da cidade para garantir a segurança de funcionários e da população. A empresa informou que pode tomar a mesma atitude em caso de novos atentados.
Lei do silêncio
No local onde o primeiro veículo foi incendiado, no cruzamento entre as Ruas Tapajós e Vista Bela, o cenário na manhã desta terça-feira (26) era de destruição. As chamas do veículo danificaram os fios da rede elétrica, o posto de energia, as paredes, o portão e parte do teto de uma casa. Nenhum vizinho quis conceder entrevista ao G1.
Um funcionário da família que preferiu não se identificar fazia a limpeza da calçada e disse que até as câmeras de segurança derreteram por causa do fogo. Segundo o rapaz, os moradores estão com medo de novos ataques e adotaram a 'lei do silêncio'. "O prejuízo foi grande. Psicologicamente estamos muito abalados. Ninguém quer sair na rua. Todo mundo está com medo dos traficantes", comentou.
Rapaz limpou a calçada na Rua Tapajós: "o prejuízo foi grande", disse (Foto: Eduardo Guidini/ G1)
Imóvel foi atingido pelo fogo e teve portão destruído, em
frente ao local onde ônibus foi incendiado
(Foto: Eduardo Guidini/ EPTV)
Ataques
Em um intervalo de três horas, dois ônibus de transporte público e um particular foram incendiados no bairro Ipiranga, Zona Norte de Ribeirão. O primeiro veículo foi incendiado às 18h40 na Rua Tapajós, a 20 metros de onde um suposto traficante foi morto com 12 tiros. Meia hora após o primeiro atentado, o segundo veículo foi incendiado na Avenida Rio Pardo, a cerca de dois quilômetros do local do assassinato.
Homem de 27 anos conhecido como "Pé de boi" foi morto em Ribeirão Preto (Foto: Alexandre Sá/EPTV)
Homem de 27 anos conhecido como "Pé de boi"
foi morto com 12 tiros (Foto: Alexandre Sá/EPTV)
O terceiro veículo, um micro-ônibus de uma fábrica de papéis, foi incendiado por dois homens na Rua Antônio Sylvio Pezzuto. Ninguém ficou ferido. O motorista da empresa, que preferiu não se identificar, contou que deixou o veículo estacionado em frente a casa onde mora enquanto jantava.
Na manhã desta terça-feira (26), o delegado Paulo Henrique Martins de Castro, responsável pela investigação dos casos, disse acreditar que a onda de violência foi uma retaliação ao assassinato de rapaz, conhecido nos meios policiais como "Pé de boi". Segundo ele, "Pé de boi" tinha antecedentes criminais por roubo e havia saído do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Ribeirão há menos de um mês.
O delegado disse também que existe a possibilidade de o homicídio ter sido cometido por integrantes de uma quadrilha rival a que a vítima pertencia. "Pode ter sido algum inimigo de gangue. Pode ser algum acerto de contas. Há uma linha de investigação bastante avançada sobre isso, mas não podemos falar muito. O momento é de trabalhar."
Bandidos ateiam fogo em dois ônibus na noite desta segunda-feira (25), em Ribeirão Preto (SP), em protesto contra a morte de Tiago dos Santos Mazini, que tinha acabado de sair da prisão. Ninguém ficou ferido. (Foto: Alfredo Risk/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Bandidos ateiam fogo em dois ônibus na noite desta segunda-feira,
em Ribeirão (Foto: Alfredo Risk/Futura Press/Estadão Conteúdo)

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