Pontos na Zona Norte tinham poucos passageiros nesta terça-feira (26).
Testemunhas e vizinhos adotam 'lei do silêncio' sobre coletivos queimados.
Eduardo Guidini
Fonte:EPTV
Larissa
espera o ônibus com a amiga na Avenida Dom Pedro I,
no mesmo bairro
onde aconteceram ataques a coletivos na segunda-feira
(Foto: Eduardo
Guidini/ EPTV)
Moradores de Ribeirão Preto (SP) que utilizam diariamente o transporte público relatam medo de novos ataques, um dia após dois ônibus coletivos e um micro-ônibus
terem sido incendiados no bairro Ipiranga. Os passageiros temem que as
ações criminosas voltem a acontecer nesta terça-feira (26) e já procuram
alternativas para não dependerem dos ônibus urbanos. Durante a manhã e o
início da tarde, a maioria dos pontos na Zona Norte estavam vazios.
Vendedor aguarda ônibus em Ribeirão: 'Não tem
como não ter com medo' (Foto: Eduardo Guidini/ EPTV)
A estudante Larissa Guimarães, de 16 anos, diz estar apavorada com a
possibilidade de outros ônibus serem queimados no bairro. "A gente nunca
sabe quando pode acontecer. Pode ser o ônibus em que a gente está",
comenta a adolescente, que estava em um curso na noite de segunda-feira
(25), quando os três ataques ocorreram. "Não consegui voltar para casa e
meu pai foi me buscar na escola. Hoje, combinamos a mesma coisa."
O vendedor Luiz Carlos de Oliveira, de 22 anos, não teve a mesma sorte:
emprestou o carro para o pai e precisará utilizar o transporte coletivo
para voltar do trabalho nesta terça-feira. Oliveira não descarta,
porém, a hipótese de retornar para casa a pé. "Não tem como não ficar
com medo. Hoje de manhã, o motorista estava apavorado. Qualquer novo
ataque, eles dizem que vão parar. O jeito é ir caminhando", afirma.
Na noite de terça-feira, o consórcio Pró-Urbano, responsável pelo
transporte público em Ribeirão, suspendeu a circulação de todas as
linhas da cidade para garantir a segurança de funcionários e da
população. A empresa informou que pode tomar a mesma atitude em caso de
novos atentados.
Lei do silêncio
No local onde o primeiro veículo foi incendiado, no cruzamento entre as
Ruas Tapajós e Vista Bela, o cenário na manhã desta terça-feira (26)
era de destruição. As chamas do veículo danificaram os fios da rede
elétrica, o posto de energia, as paredes, o portão e parte do teto de
uma casa. Nenhum vizinho quis conceder entrevista ao
G1.
Um funcionário da família que preferiu não se identificar fazia a
limpeza da calçada e disse que até as câmeras de segurança derreteram
por causa do fogo. Segundo o rapaz, os moradores estão com medo de novos
ataques e adotaram a 'lei do silêncio'. "O prejuízo foi grande.
Psicologicamente estamos muito abalados. Ninguém quer sair na rua. Todo
mundo está com medo dos traficantes", comentou.
Imóvel foi atingido pelo fogo e teve portão destruído, em
frente ao local onde ônibus foi incendiado
(Foto: Eduardo Guidini/ EPTV)
Ataques
Em um intervalo de três horas, dois ônibus de transporte público e um particular foram incendiados
no bairro Ipiranga, Zona Norte de Ribeirão. O primeiro veículo foi
incendiado às 18h40 na Rua Tapajós, a 20 metros de onde um suposto
traficante foi morto com 12 tiros. Meia hora após o primeiro atentado, o
segundo veículo foi incendiado na Avenida Rio Pardo, a cerca de dois
quilômetros do local do assassinato.
Homem de 27 anos conhecido como "Pé de boi"
foi morto com 12 tiros (Foto: Alexandre Sá/EPTV)
O terceiro veículo, um micro-ônibus de uma fábrica de papéis, foi
incendiado por dois homens na Rua Antônio Sylvio Pezzuto. Ninguém ficou
ferido. O motorista da empresa, que preferiu não se identificar, contou
que deixou o veículo estacionado em frente a casa onde mora enquanto
jantava.
Na manhã desta terça-feira (26), o delegado Paulo Henrique Martins de
Castro, responsável pela investigação dos casos, disse acreditar que a onda de violência foi uma retaliação
ao assassinato de rapaz, conhecido nos meios policiais como "Pé de
boi". Segundo ele, "Pé de boi" tinha antecedentes criminais por roubo e
havia saído do Centro de Detenção Provisória (CDP) de Ribeirão há menos
de um mês.
O delegado disse também que existe a possibilidade de o homicídio ter
sido cometido por integrantes de uma quadrilha rival a que a vítima
pertencia. "Pode ter sido algum inimigo de gangue. Pode ser algum acerto
de contas. Há uma linha de investigação bastante avançada sobre isso,
mas não podemos falar muito. O momento é de trabalhar."
Bandidos ateiam fogo em dois ônibus na noite desta segunda-feira,
em Ribeirão (Foto: Alfredo Risk/Futura Press/Estadão Conteúdo)