quinta-feira, 1 de março de 2012

Sistema amplo é insuficiente para evitar filas na saúde de Ribeirão


Trinta e cinco unidades básicas, 12 núcleos de atendimento a especialidades e 1,6 mil leitos disponíveis para pacientes do SUS distribuídos em nove hospitais inserem os 605 mil habitantes de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, em um sistema de saúde pública habilitado para oferecer do atendimento básico a transplantes de fígado e rim, segundo gestores das redes municipal e estadual.
Infraestrutura que, agregada à condição socioeconômica local, deu à cidade a terceira melhor posição no Índice de Desenvolvimento do SUS (IDSUS) divulgado nesta quinta-feira (1) pelo Ministério da Saúde, mas que contrasta com as críticas de médicos, pacientes e com as filas de espera para consultas e exames.
Referência nacional para cirurgias neurológicas e dono de um orçamento anual de R$ 450 milhões, o Hospital das Clínicas deRibeirão Preto (HC-RP) exemplifica essa contradição: a unidade do governo estadual acaba de enfrentar uma greve de médicos-assistentes que durou 240 dias e deixou um passivo de 3 mil cirurgias eletivas atrasadas, conforme dados divulgados pelo próprio hospital.
Médicos
Ulisses Strogoff, médico-assistente do HC-RP e diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), coloca a situação dos anesteologistas do hospital como emblemática: o déficit é de 66%. “Tem 40, mas precisa ter 120 para funcionar melhor, não estou nem dizendo o ideal”.
Strogoff afirma que 5 mil cirurgias eletivas deixam de ser realizadas todos os anos por causa da falta de médicos e que a espera por uma consulta com um especialista pode levar até seis meses. Escassez de recursos humanos que, segundo ele, atingem outras áreas. “Só na radiologia, o HC tem 40 mil exames sem laudos, porque faltam radiologistas”.
Pacientes aguardam atendimento em UBDS de Ribeirão Preto (Foto: Leandro Mata / G1)Pacientes aguardam atendimento em UBDS de
Ribeirão Preto (Foto: Leandro Mata / G1)
PacientesNa rede municipal, criticada também pelo diretor do Simesp devido ao tempo de espera por atendimento, a reportagem do G1 testemunhou o problema. Às 16h desta quarta-feira (29), o tempo estimado de espera era de três horas na Unidade Básica Distrital de Saúde (UBDS) do Sumarezinho, na zona oeste do município. Com todas as cadeiras da sala de espera ocupadas, algumas pessoas aguardavam em bancos na parte externa da unidade, castigadas pelo sol: no horário, os termômetros da cidade chegaram a registrar 36,4ºC.
A dona de casa Cristiane Leal Gonçalves, de 41 anos, foi ao posto por volta de 13h levar o filho, de 16 anos, que estava com febre e diarreia. Mesma situação enfrentada pela vendedora Dinamar Silva, de 42 anos, que aguarda desde janeiro por uma consulta para o filho de 16 anos. “Eu marquei uma consulta para mim em janeiro e sabe para quando eles agendaram? Para julho”, relatou.
A esteticista Fabiana Bernardo, de 34 anos, tem pedra na vesícula. Na noite de terça-feira (28) ela foi até a unidade com dores e nesta quarta-feira teve que voltar. “Cheguei ontem (terça-feira) era 21h30, fui atendida às 23h. Cheguei gritando de dor”, afirmou.
HC
Críticas à parte, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto é o principal equipamento de saúde pública não apenas do município, mas de uma região que abrange 4 milhões de habitantes distribuídos por importantes cidades do interior paulista, como Araraquara, Franca e Barretos.
A atuação conjunta com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), à qual o HC-RP é associado, faz do hospital um centro de excelência capaz de realizar 600 mil consultas anuais e 34 mil internações, de acordo com o superintendente Marcos Felipe de Sá.
“Pode ter problema, mas o hospital é um modelo. Se olhar a realidade, não há quem não reconheça”, afirmou Sá.
PrefeituraStenio José Correia Miranda, secretário de Saúde de Ribeirão Preto, confirma a existência de filas, mas diz que o tempo de espera já chegou a oito horas. “Hoje pode chegar a três horas, tempo igual ao que muita gente espera na rede particular. Vender a expectativa de que um serviço de saúde que atende demanda espontânea terá atendimento imediato é uma irresponsabilidade, em qualquer lugar do mundo”.
Miranda afirma que as 30 Unidades Básicas de Saúde e as cinco Unidades Básicas Distritais de Saúde da cidade, além dos quatro hospitais filantrópicos conveniados com a Prefeitura, garantem aos ribeirão-pretanos a possibilidade de ter um local de atendimento perto de casa em 90% da área urbana. “Qualquer cidadão pode caminhar 20 minutos e ter uma unidade de saúde”.
EstadoProblemas como os citados pelo Simesp no HC-RP também são amenizados na avaliação de Ronaldo Dias Capelle, responsável pela 13ª Diretoria Regional de Saúde do Estado de São Paulo. Ele atribuiu problemas momentâneos na saúde local a situações pontuais, como a paralisação de parte dos médicos. “Não dá pra dizer qualquer coisa do HC nos últimos seis meses, foram 240 dias em estado de greve”.
Capelle cita investimentos anuais que superam R$ 600 milhões por parte do governo estadual para justificar sua opinião sobre o atendimento aos pacientes do SUS na cidade. “Acho que ele [o acesso ao serviço] é bom".
O diretor ressalta que a somatória dos atendimentos de alta e média complexidade oferecida pela rede estadual - considerando duas unidades do HC-RP, o Centro de Referência da Saúde da Mulher, o Hospital Estadual e o Hospital Santa Tereza (psiquiátrico) – garante à cidade uma oferta de serviços rara em outras regiões.
“Entendo que não é perfeito e em algumas áreas está saturado, mas veja o exemplo do HC, todo mundo quer ser atendido lá. Por isso temos que procurar soluções. Esse exercício é contínuo”.

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